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Fênix
Eu fogo extinto pedra negra profunda e quieta Eu fogo escuro no fundo adormeço sonhando lava.
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Tinta
A tarde aqueceu a cozinha o sol com suas cortinas amarelas respirava. No canto da escada ao lado da mesa ainda era inverno.
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Transe
ossos areia e céu caem (entre as nuvens) tempo que mergulha em folhas dançarinas (urbanas) selvagens e fogueiras (há ainda?) espaço para a canção (primeira) única voz (ainda) eco(a) mãos vazias corpos ocos palavras deserto entre as nuvens urbanas há ainda, primeira, ainda, a voz?
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Como construir um peixe
De matéria líquida e prateada, desfaz-se o nó: enrolado sobre si, abre-se ao sol. Do sal e da areia, delicadamente depósitos em suas asas de mar; O seu vôo assim, para sempre apoiado, a matéria toda aquática, desenha. Seus contornos, em água, azul e onda; Seu respirar aquoso, maleável e silencioso, movimenta oceanos e ilhas; […]
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Diário do (en)fim do (i)mundo: parte 432
A batata-doce não mais comestível. A cebola com suas muitas camadas, podres. A comida toda, estranha. As pessoas não sabem mais falar (conversar, sobretudo). O dia amanhece cinza, mas com temperaturas escaldantes. O tempo já não é mais tempo. É outra coisa. Os ricos buscam outros planetas. Os não tão ricos acreditam que são, mas […]
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Artigo(s)
a coluna a floresta o céu o parafuso a tarde a chuva o gato o calor a espera o tédio a noite o sonho a insensata sensação de que (não) há (quase nada na folha) uma coisa que (in)existe.
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Onde nascem as nuvens
Sopra o vento salgado entre as pernas entre as bocas entre_ meio azul céu onda: já não era porto barco ou vela. Sopra o hálito morno palavra suada dos lençóis em revoada, pés na tempestade. Sopra o vento na ponta da língua morno da boca à pele astro_lábio(s) perdidos na areia deserto à beira-mar.
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Um bunker para ninguém
Não era um útero era um bunker: o quê ou quem entrasse ali dali nunca mais sairia. Era eu e eu mesma? Uma autogestação dolorosa, sangrenta que sangrava sangrava e enquanto deixava ele o bunker mais forte mais fraca eu ficava. Dividida entre ruínas e pedras e cortinas esvoaçantes entre pedra e ar um corpo […]
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A extinção das abelhas
Quando fomos ouvir a Natalia Borges Polesso falar sobre o seu novo livro (“Foi um péssimo dia”), acabou que li “A extinção das abelhas”. Lá nos idos de 2021 fomos na sessão de autógrafos das Abelhas: talvez por pandemia-quase-pós-pandemia, talvez por não estar no clima, não li. E fiquei curiosa quando a Natalia, ao ser […]