Quando fomos ouvir a Natalia Borges Polesso falar sobre o seu novo livro (“Foi um péssimo dia”), acabou que li “A extinção das abelhas”. Lá nos idos de 2021 fomos na sessão de autógrafos das Abelhas: talvez por pandemia-quase-pós-pandemia, talvez por não estar no clima, não li. E fiquei curiosa quando a Natalia, ao ser questionada por alguém da plateia sobre qual dos seus livros indicaria para ler, ela respondeu: “só não comece pela Extinção das abelhas”. Não, eu não iria começar pela Extinção porque já havia lido Amora e Recortes (esse o meu preferido – e acho que entendi o motivo, pela voz dela mesma: “talvez esse seja o mais ingênuo, que eu não consiga mais reproduzir na escrita essa ingenuidade”).

Mas fiquei curiosa com as Abelhas.

Li o livro numa sentada praticamente. E tive vertigens ao longo da narrativa. Visionário, duro, árido, e intenso. Dolorido e muito “real” (daquelas realidades que poucos conseguem “ver”). É um livro sobre solidão (contracapa), mas para mim ficou muito forte a questão do olhar-para-fora-e-ver. Escolhi um trecho da Segunda Parte para citar aqui:

“Sempre é dia. Caminhei pelas ruínas naquela luz parca, suja, que não me dizia se era cedo ou tarde demais. Ou se já não havia mais tempo. Quando havia menos olhos espreitando. Bichos. Quando não havia luz, a paisagem era menos óbvia, um tanto feita de imaginação, de cenários possíveis. Como se ainda houvesse futuro por ali, naquela perene claridade em que éramos obrigadas a ver tudo, tudo, absolutamente tudo. Quando tu imaginou o fim do mundo, não era o fim do teu mundo que tu imaginava, era? As estrelas que nasciam, prolíficas, recém-descobertas pelos estudiosos, não tiveram nada a ver com o fim. Eram uma fonte de vida. Nós, uma fonte de morte. Nossos finais. Tu comprou uma extensão do prazo para o apocalipse e seguiu dentro do teu carro, da tua casa, da tua vida privada, não compartilhada realmente, mas muito compartilhada virtualmente, exploratoriamente. Não, as coisas não pararam para todos, como pensávamos. As coisas seguiram para poucos, para muito poucos, como suspeitávamos”.

Leiam: A extinção das Abelhas – Companhia das Letras, 2021.

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