A batata-doce não mais comestível.

A cebola com suas muitas camadas, podres.

A comida toda, estranha.

As pessoas não sabem mais falar (conversar, sobretudo).

O dia amanhece cinza, mas com temperaturas escaldantes.

O tempo já não é mais tempo. É outra coisa.

Os ricos buscam outros planetas.

Os não tão ricos acreditam que são, mas seguem esquecendo.

E nós, mortais, longe dos deuses e do dinheiro, seguimos vidas com tédio e insatisfação.

As redes sociais seguem sendo canais de autoficção.

A rachadura na parede aumenta, dia após dia, mas é à noite que o ruído é maior.

As formigas percorrem os livros, a cama, a pia: trazem notícias do subterrâneo, mas nós não aprendemos a ouvir.

Os mortos, os vivos, voltam todos, ignorando passado e descrentes do futuro. E habitam o mesmo espaço e tempo nossos (nossos?).

Do leito de deuses cruéis, mortais retornam grávidos de ideias, tão mortais quanto eles próprios (nós?).

As guerras são (ainda) cantadas (e contadas) como se.

Seguimos acreditando que.

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