-
Autorretrato
Foi quando alguém me disse, tu ri pouco né? que eu despertei para a minha tristeza. Será? Fastio é uma palavra que me preenche até a boca. Não sou triste, sou chata, já disse muitas vezes. Mas chata chata, sabe? E depois disso foi a foto: todos rindo e eu com as mãos nos bolsos […]
-
Canto XXV
ficaram os passos entre uma linha e outra dos tornozelos invoquei o chão e era da cintura que brotava a mão: o poema lírico criou epopéias (desnecessárias, é verdade) e nas costas escarpadas o mar bateu o sal inundou poros e naus o pescoço mitológico (re)criou a cauda as serpentes a medusa do bestiário divino […]
-
Pedra-palavra
Dura áspera seca árida acre bate e esfarela a.r.e.i.a. invade sapatos olhos e dentes rola pela rua redonda salta tropeça quebra vidraça sonho e magia quica três vezes na superfície aquosa e mergulha: adormece no fundo do lago sonha céu e silêncio. De noite vira rochedo.
-
Atravessares, vivo entre montanha e mar
Cruzo a rua o pensamento o presente: chego ali, entre mar e pôr-do-sol Do céu ao sal Sopra macia a lembrança de tempos idos em águas eriçadas por brisas calmas. Chove nuvem lenta leva uma ideia não sei ao certo qual Chove ainda e é domingo e traz consigo a rua arrasta o domingo a […]
-
Domingo
Deixar que a tarde caia (aceito a gravidade e os movimentos solares) deitar entre a hora e a vida – deslocada, inteira e atravessada (pelas coisas todas ensolaradas e espalhadas entre livros e mãos) Acreditar que sem saber de nada sem querer saber que entre o verde e o azul há o céu da boca […]
-
Ilha
Eu procurei: no meio do mundo (no fundo, bem fundo) uma palavra nascida do sol banhada de mar Quanto mais eu caminhava mais onda e vento soprava Toquei com pés de areia uma única sílaba e nunca mais voltei.
-
L´hiver
Amanhecer vestido de névoa, neblina engole pedaços: desapareceres… Manhã cinza, dragões adormecidos, soltamos vapor. A tarde é azul, amor do sol é bergamota no gramado. A noite é negra: estrelas trincadas de frio, turquesa que não acaba mais… Sou mais lenta pelo prazer de simplesmente arder. Inv(f)erno, sou toda t(n)ua.
-
Nada(deiras)
Nada a dizer a declarar a pensar Nada, em mar aberto em quarto fechado por cima das profundezas Nada nada nada e lá a ilha Mergulha e (des)encontra nada Assim na água como no ar: voa.
-
Saída de emergência
No meu corpo, a alma habita a ponta dos dedos, dança pela pele e sonha no meu nariz. Quando ela se irrita, foge para os pés, e se insegura, dobra-se nos joelhos. Quando quer prazer, deseja no pescoço e se sexy, desce pelas costas. Para meditar, caminha, e para divagar, desce pelos ombros até os […]