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Outona-me
Folhas que caem, vermelhos e terrosos assim, quase carmim num soprar de vento mais frio arrepio eu me sinto mais in teira mais dentro mais funda nas minhas in certezas feito verbo (in)criado feita de coisas que se espalham esvoaçam vestido tecido de pele nua.
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O sol, entre a nuca e o nascer dos fios de cabelos enluarados
Não era noite, mas podia ser. Era um sábado com gosto de domingo, e tudo estava fora do lugar: órbitas, gatos, e até mesmo a poesia que se misturava à prosa, como quem cantarola cantigas de tempos remotos. E ela ali: lençol, sonho inacabado, e um punhado de pássaros que voejavam entre um pensamento e […]
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Olhos vidrados
Era mais que água, chuva ou temporal. Escorria pela nuca, testa, engolia a goles desérticos, aquele céu líquido de azul e transparência, saliva e suor, sede e umidades, nuvem e som. Do telhado às janelas, das pernas aos pés, de cabelos grudados aos pensares, lavava calçadas, descalça. Os poros bebiam de fora para dentro. A […]
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(des)conhecimento
Porque há pessoas que nos fazem possíveis. Porque há fantasmas que dançam enlaçados em cortinas. Porque nessa luz translúcida, entre chuva e sol. Porque no silêncio da manhã, essas palavras todas. Porque quando um gato espreguiça. Porque somos mais que uma. Porque as doenças existem. Porque somos saudáveis e saudades. Porque as centáureas no jardim […]
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Linhas e limas
É que assim, bem no início, nesse começo de semana que parece tão longa e tão funda, aparecem as laranjeiras em flor, abelhas entrando ouvido adentro em som e sol, feito colmeia construída em ar frágil que pensamento consome. E é assim, dentro de noite de verão que ainda não chegou primavera que esse cheiro […]
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Toda suja
E não é que tem coisas que se espalham pela boca, mãos, roupas, chão, cabelos, sujam sapatos e pés, mesa e lençol, e nos deixam assim, com a alma não tão alva, sujas, mas cheias de vida? chocolate espalhado pelo rosto todo, salpicado de receita recém testada. melão, manga, sorvete, doces açucarados, comidos e lambuzados entre mãos […]
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Ficções
porque enquanto ela vivia de sol, céu, gatos e cabelos que, verdes cresciam entre as amarelas flores do jardim, ela não precisava acreditar em realidade, não queria saber de detalhes, nem qualquer jornal ou rede. Porque enquanto a manhã acordava cheia de passarinhos, sua cama despertada por beijo e cheiro de verão em pleno inverno, […]
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Tartarugas e colibris
Do que precisava aprender, nesse momento frio e obsessivo era: como ser lenta e sábia, feito tartaruga que, diferente de todas as outras, hibernava 10 meses no ano em algum canto escuro de si mesma. e também como, ao invés de bater asas rápidas até atingir a transparência, também aprender a tirar das flores mais […]
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Lentos pensamentos azuis
Eu quero viver um dia inteiro, sem pressa e sem atraso, no tempo exato do céu, sol e lua. Porque tem dias que se arrastam, pesados, longos, feito século ancorado nas horas. Tem outros que voam, nuvem escapando pelo azul, sem chuva, sem. Difícil esse movimento de ralentar, diminuir passos, descarregar pesos, esquecer relógio de […]