É que assim, bem no início, nesse começo de semana que parece tão longa e tão funda, aparecem as laranjeiras em flor, abelhas entrando ouvido adentro em som e sol, feito colmeia construída em ar frágil que pensamento consome.
E é assim, dentro de noite de verão que ainda não chegou primavera que esse cheiro vem, de longe, de outros países, outras vidas, talvez até, um outro sentido: cheiro que vem pela boca, pela pele, arrasta cidades inteiras, engole órbitas e desveste o corpo dessa ilusão.
De ser um.
De ser eu.
É que quando sinto, vejo, toco, já sou tantas.
Quando nesse cheiro de boca, de beijo, nessa semana que já é um mês inteiro, quando a ponta dos dedos tocam esse pedaço de espaço que dança no tempo, essa corda tensa, esse nervo infantil, essa coisa chamada vida, é linha que tece, é lima que cheira primavera.
Sou eu, abelha, pensando colmeias.
É tu, pensada perfume, vestida de flor.

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