Foi quando alguém me disse, tu ri pouco né? que eu despertei para a minha tristeza. Será? Fastio é uma palavra que me preenche até a boca. Não sou triste, sou chata, já disse muitas vezes. Mas chata chata, sabe? E depois disso foi a foto: todos rindo e eu com as mãos nos bolsos da calça barata, e o casaco grande demais (como se eu tivesse encolhido dentro dele), nariz torcido, boca torta, eu toda desfigurada. Lembrei de Dorian Gray, só que às avessas, de fora para dentro? O quê? Feio? Triste? Vazio. Eu, borracha flácida. E depois, notei as bochechas caídas, o olhar sem brilho, a moleza das pernas, o tempo morto. Eu, toda cheia de empecilhos, toda torta e vazia, velha, pensei. Mas era mais que anos. Era uma pessoa cheia de muros, paredes, preconceitos, sem saber como falar, como viver, como ser. Eu, casa desabitada, gargalhei.

Uma risada que ecoou nos cômodos vazios.

Ecoou por anos a fio.

No espelho da parede, o bilhete mudo:

estive aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *