Quando acordou já era maio. E as estrelas haviam mudado de lugar. Quando adormeceu eram outros sonhos, e os lençóis ali: aqueles de sempre, embrulhando o pijama desbotado.

Quando sonhou aqueles sonhos antigos, emoldurados em paredes sem pintura, eram rascunhos.

Só rascunhos.

Ao sonhar-se em pedaços, descobriu novas tintas. Quando abriu os olhos, primavera e outono dividiam a mesma cama, borboletas espalhavam-se pelo teto, flores perfumavam a pele, e as folhas cobriam um outro chão.

Não saiu da cama. Ficou a ouvir o sussurrar desses sonhos antigos: “não é sonho não. Isso está na palma da mão”.

No brilho dos olhos? Na brisa do verão.

Quando olhou outra vez no espelho, não era espelho, era prata líquido, mar: era sal, era sol: era o pulso de uma estação que ainda respirava. Era cor que não acabava mais, eram estrelas salpicadas por toda a extensão.

Quando acordou, continuava sendo maio.

O problema não era o tempo.
Nem a estação.
Não era o pijama puído, o coração doído, ou os sonhos rotos.
O problema não era ela, nem o mundo.
O problema todo havia sido aquela estação:
aquele trem,
aqueles trilhos,
a próxima parada.

O que ela não sabia era que aquele maio, era maio, e para sempre seria. O tempo é sempre agora.

Estrelas, sonhos e passarinhos: eles estavam todos ali, aqui, ao alcance da mão.

E se fosse julho, agosto ou dezembro, o que ela queria mesmo, era que fosse sorrindo, que fosse silêncio, e que, de pijamas, os sonhos voltassem a sonhar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *