Náufraga, de velas rasgadas, sonhei.
Era noite.
Bússolas e caminhos: tudo apagou-se.
Era uma constelação inteira que me guiava por areias escaldantes, dunas mutantes, e tempestades distantes. Era um outro tempo, aquele vento que arrastava mundos, e eu perdida num canto que já não tinha voz.
E você veio, rosa dos ventos, meu mapa perdido, me enferrujando toda, eu, tão ferro ossos sangue e sal, em proporções assimétricas, numa convulsão de gostos e cheiros. A estrela da tua boca foi ponto cardeal: o mar, as ondas, o sol. Tu me jogastes inteira, naquele pouco que eu nunca fui: e era tão muito. E era quase agora. Tua cartografia fora dos mapas, teus sonhos nos meus. Era tu que me sonhavas, ou tu sempre fostes um sonho meu?
Rasguei globos,
acendi velas,
soprei ventos: a rosa se fez rubra,
e astros e lábios trouxeram a noite
o deserto
e nas tuas (en)costas, me fiz mar.