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Janelas ao vento
Era do início do mês, dos tempos, de um outro mundo que ela entrou: era abril poderia ser ontem da janela saltou antes seus olhos suas mãos seu cheiro ela toda aberta veia velha louca entrou como se nunca tivesse saído. Escancarou armários ideias idas vindas de outros, ela toda bela ela: abriu-se ao meio […]
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No verão, de pés descalços
Ela podia ser mais (calma paciente otimista) Ela tinha que ser menos (colérica descrente bêbada) era o que todos diziam – alguém disse. Ela era surda (quando queria) Não gostava de calor gostava de verão (quando era noite) Pestanejou, numa noite de segunda (podia ser de quinta também) e não sabia se o sonho era […]
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Corpo a corpo
“e o poema faz-se contra a carne e o tempo” faz-se com a carne e o tempo A carne O corpo entre os lençóis entre as pernas as mãos e os vulcões rimas perdidas num tempo esquecido. O tempo na carne: o corpo desliza ponteiros entre a nuca e o ombro esquerdo porque o direito […]
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Rascunho(s)
Escolho uma palavra secreta e sussurro ali entre as tuas pernas cada sílaba cada letra nos teus poros O parágrafo inteiro nas tuas costas uma página toda pelo teu pescoço continuo a escrever-te toda dos pés à cintura da nuca à palma das mãos Nos tornozelos descubro uma falta de pontuação (Re)começo o poema ali […]
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Do orvalho à geada
E não era o tempo, o vento, o frio, qualquer coisa fora externa selvagem. Não era a estação, o inverno, o mês ou o ano. Não. Era a noite nua crua o sol nascia e ao se pôr, levava umas cores, um cheiro, algo dela que nem ela, (re)conhecia. No corpo um sopro um gosto, […]
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Era chuva chovendo
e um verde crescia de dentro pra fora a lavanda saía da boca na ponta dos dedos, alecrim e tão pouco de mim: era eu e não mais nem menos Entre os braços vento… …venta sopra de longe uma saudade que vem vem era nu vem Vem da nuca das costas do dorso (con)torço contorno […]
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Fugitiva
Acordei coberta de pólen despida de ideias toco tudo que me escapa: vento flor tempo e nuvem.
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Narcisos
É um ar de primavera, esse que desliza pela noite pelo tempo pela nuca é um cheiro de vento de flor um verde que se põe cor um dia que se faz vida. É um “seja” urgente uma nota contente uma rima em janela aberta (diria até, piegas e recorrente, de veia aberta) mas é […]
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Terceiro ato
Len t a ment e chega pelas mãos o salgado cheiro de ondas quebradas na cadência da queda na ardência da pele na fluência da língua na confluência da nuca na insuficiência da boca Sopro noturno em cortinas devassas roupas e restos copos e fomes fomes e corpos no ápice do acorde a corda tesa […]