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Anacreônticas, 20
Anacreonte nasceu por volta de VI a.C. e seus poemas ficaram “perdidos” por aproximadamente cinco séculos. Nos chegaram fragmentos, e posteriormente surgiram as Anacreônticas, poemas ao estilo de Anacreonte, mas sem indicação de autoria. A poesia da época era feita para ser cantada, e versava sobre amor, vinho, deuses e seus ‘desejos’ humanos. Junto com […]
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Autorretrato
Foi quando alguém me disse, tu ri pouco né? que eu despertei para a minha tristeza. Será? Fastio é uma palavra que me preenche até a boca. Não sou triste, sou chata, já disse muitas vezes. Mas chata chata, sabe? E depois disso foi a foto: todos rindo e eu com as mãos nos bolsos […]
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Aguda
‘queria mesmo era aprender a cantar’, disse antes do voto de silêncio.
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Deslembrança
Não sei se no futuro alguém lembrará de nós nós amarrados no convés de portos onde o mar deixou de existir navios encalhados nos amontoados de tempo e vida que acabou de passar. Não sei se no futuro nos lembraremos de nós porque nós é algo apertado fio enrolado sobre si tapeçaria tapete tecido tex […]
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moinhos
dos azuis pensares navega a ideia mergulhada é branca e preta a linha que cruza a meio pé o vento verde sopra alguém sussurra a música doce pelo canto da boca dorme o pensamento o sábado a tarde ela dança em meio às folhas do jardim no céu a laranja madura adormece o sol na […]
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(fero)cidades
não quero (re)lembrar (mesmo já relembrando) dos corpos, dos (m)ur(r)os, das mortes. essas são muitas, mais do que cabe no parágrafo, em números ou histórias. tentei, em vão, olhar para além do escuro que rodeava cidade e silêncios. um escuro que tomou conta do mundo, com uma ferocidade aquosa, líquida, argilosa. um escuro de noite […]
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Ela narra a si mesma
Narradora deslocada sem câmera quase sem voz míope e com multifocal novo tropeça sobre si mesma e cai história abaixo sem pontuação e com título provisório não sabe dialogar nem monologar corta parágrafos no intuito de reencontrar a frase que despenca junto com ela num gênero fictício que era para começar poema e acabou por […]
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Abandono(s)
Poucas coisas comoviam aquela mulher. Uma delas era: bichos de pelúcia. Abandonados em brechós, lixeiras, antiquários, caminhões de mudança. Era só enxergar um urso marrom de um olho só, um macaco preto peludo sem uma das orelhas, e ela fazia o resgate. Aos poucos, foi dando abrigo àqueles seres que foram colocados para fora de […]
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3 era seu número biológico
Ela era uma fraude: seu corpo retocado pelo fotoxópi, o cigarro eletrônico, e a boca repuxava para o lado direito. Sua bunda, assim como suas unhas, não eram suas. De noite, olhava-se no espelho e com voz negligentemente calma, conversava consigo mesma: na terceira pessoa. Tudo na sua vida era sempre triangular. Ela se desconhecia. […]