Poucas coisas comoviam aquela mulher. Uma delas era: bichos de pelúcia. Abandonados em brechós, lixeiras, antiquários, caminhões de mudança. Era só enxergar um urso marrom de um olho só, um macaco preto peludo sem uma das orelhas, e ela fazia o resgate. Aos poucos, foi dando abrigo àqueles seres que foram colocados para fora de casa, da vida, sem explicações. Arrumou um quarto só para eles: o santuário dos brinquedos abandonados. Cada um, com seu nome: o urso desbotado, Romeu, a sapa descosturada, Safo, o crocodilo sem dentes, Arquimedes. 

Quando alguém conhecido flagrava o bicho debaixo do seu braço, na rua, ela nem ouvia a pergunta:

– É para uma creche que eu ajudo.

Não ajudava. Não doava. Eram todos seus. Não sofreriam mais.

Procurou, em vão, até o fim dos seus dias, o esquilo-de-capa-branca que ficou na casa dos pais, quando ela foi para adoção.

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