O simples deslocar-se no espaço dá a cadência do verso que eles, os felinos, escrevem. O verso ácido de suas unhas se contrapõe à maciez das suas rimas felpudas. Mas é na escuridão completa que sua felinosofia se constrói: numa poética noturna do devaneio é que seu pensamento nômade se inscreve. Arrisco dizer, após algumas observações noturnas, que a felinosofia não se escreve pelas patas. Não. Antes pelas vibrissas que captam as ações telúricas e os odores viajantes, e após codificá-los, parece constituir uma caudastesia (termo cunhado para tentar aproximar a sensação e a teoria aplicadas ao corpo).
O salto. Temática importantíssima, quase Sartreana, pois resume a teoria e a prática num único gesto (trans)formador. Para além da felinosofia, existem escrituras felinas em quase todos os gêneros: desde a poesia lírica dos muros divisórios, até a Bastetótica (o que seria para os humanos algo próximo ao erótico, que remete à deusa fértil Bastet, cultuada por alguns felinos não-ateus – o que na sua grande maioria o são, já que eles próprios são deuses). A poesia Bastetótica é inscrita de pele à pele, obras permanentes e por vezes, marcadas com sangue (daquele que lê, não daquele que escreve), largamente utilizada para demarcar territórios (alguns pesquisadores conseguiram mapear cidades inteiras apenas com a urina utilizada. Sim, urina. As inscrições felinas normalmente se dão por fluidos orgânicos, adeptos portanto de produtos naturais, não suportam perfumes e outras criações artificiais à suas artes).
A propósito da pele: obra aberta e individual naquele que a recebe, os felinos em geral trazem suas histórias ancestrais inscritas em si mesmos: seus pêlos e traços são únicos, e contam a saga de seus clãs. O que poucos therolinguístas observaram é que os felinosófos são capazes de se comunicarem de pupila à pupila, ou seja, possuem conhecimento aprofundado em foto-grafia, a história contada através da luz.
Por fim, o que na verdade é só o começo dos nossos estudos, uma poética felina foi encontrada junto à Esfinge, acredita-se que anterior mesmo à criação das próprias pirâmides, com muitos versos rasurados (constatou-se que o papiro sofreu danos unhais, o que indica briga entre clãs rivais), mas uma sílaba conseguiu ser traduzida de forma inequívoca, talvez uma assinatura: RA. Indicações mitológicas egípcias posteriores parecem se basear portanto, na linhagem felina VI, antes mesmo que Ramsés soubesse pintar os olhos à moda felina.
Pode-se, sem sombra nem pêlo de dúvida, indicar então, que as pirâmides foram fruto de estudos dos felinos tigrados, considerados os autênticos gatos egípcios, como sendo obra real e necessária para o sobrevoo dos felinos do deserto, pois as areias eram poucos propícias à saltos e demais acrobacias desses felinosófos que tão bem uniam as artes do corpo e da mente. Por último, e não mais importante, é de comum sabedoria o prazer felino em pesquisar penas e asas, e histórias que são trazidas do céu por aves ou insetos. O que não ficou claro é a meditação dos insetos terrenos, minúsculos, que acredita-se, repassem informações aos felinos em seus trajetos matutinos.
Há ainda muito a ser feito. Nada de se sabe sobre o Morfeu Felino, mas há indicação que suas muitas horas sagradas de sono (não tempo ocioso e infértil, como muitos acreditam), são períodos possíveis de leitura e aperfeiçoamento. Não se pôde provar, mas as pulsações nas patas traseiras indicam que talvez não seja processo de escrita, e sim, de leitura.

Dra. Acácia Miranda Felis, Fhd em Felinolinguística Aplicada à Felinosofia.
Em tarde quente e propícia ao não-movimento, apenas observação.

2 comentários em “FELINOSOFIA, a partir do estudo de Therolinguística e da Felinolinguística

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