Sabia improvisar, imaginou. Subiu ao palco e.

Ovacionada, fez três reverências para a platéia e voltou para o camarim.

Teria que voltar para casa, lembrou. Queria que fosse tão fácil quanto interpretar. Mas não era. Já tinha encarnado Ifigênia, Medeia e até mesmo, Helena. Voltar a si era diferente: ela era Ela. E tinha uma casa, que não o teatro.

Recebeu as flores, desvestiu o espartilho e a meia-calça, limpou a maquiagem. Antes disso, tirou selfies com fãs, com colegas de cena, sorriu. Sorriu muito: a peça era um sucesso, sabia. A primeira fila estava repleta de figurões e sairia em matérias dos jornais internacionais. Sabia. Mas tinha que voltar para casa.

Conferiu a bolsa com o celular e as chaves: a hora era agora. Pendurou o casaco atrás da porta, e ligou as luzes do corredor. Luz amarela, sempre. Luz branca é fria. Dois passos para a sala: vazia. A cozinha: vazia. O quarto: cheio de coisas desamparadas. A cama de meses, de anos, por arrumar. Ali, agarrou-se aos lençóis como em troncos rio abaixo, tudo molhando, tudo molhado, afogou seus gritos. Suas urgências não existiam mais. A morte era um palco. Sem texto, sem máscaras.

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