Aos que não acreditaram em mim fica aqui o meu muito obrigado. A descrença sempre foi um ótimo combustível para mim. Aos que acreditaram, e apoiaram, minha eterna gratidão. Tanto uns quanto outros fazem de mim o que sou.

Se você tem três dias ou trinta anos de vida, isso faz diferença apenas na contabilidade, não na qualidade. Se tiver cinquenta anos pela frente e continuar a fazer tudo que odeia, torrando o saco dos que te rodeiam, sendo uma pessoa petulante ou pedante, melhor ter algumas horas de vida: tanto para você quanto para o mundo seria a melhor opção.

Deixa eu dizer uma coisa que eu aprendi: o problema não é o seu chefe. O problema não é do seu marido. A culpa não é do seu passado, do seu pai ou da sua antiga namorada. Não, nem tudo é resultado dos atos da sua mãe, nem você é uma triste vítima do somatório de coisas ruins e azares de um acaso. Se a sua vida não está do jeito que você quer, desculpe dizer, mas a culpa é sua. Não é a inflação, o presidente ou a poluição (sim, podem colaborar para que o caos seja um pouco maior): isso tudo é apenas uma gota d’água nesse oceano de amarguras. Mudar a sua forma de pensar e agir frente a tudo que nos cerca é o que muda alguma coisa.

A tomada de consciência que o problema é seu, não tem uma conotação ruim: não é para incorporar ainda mais o papel de “pobre de mim, ai como eu sofro”. Não. Isso é um resgate de poder. O problema é seu, vá e resolva! Não, você não vai resolver os problemas do mundo, salvar as crianças famintas nem ganhar fortunas. Não resgatará todos os animais abandonados do planeta. Não (infelizmente). Você pode começar a fazer algo em relação a você, e isso não é egoísmo: é primeiro passo. Não, também não estou dizendo que isso é fácil, divertido ou leve. Também não é o caminho mais curto. Mas eu não sou fã de atalhos: prefiro o percurso estendido, a versão original. Nada de resumos ou adaptações. Nunca acreditei que a vida deva ser fácil ou que o verbo lutar não faça parte da rotina. Acredito que lutar por algo ou alguém é a parte mais inspiradora da vida.

O primeiro passo deve ser: seja responsável por si. E pelos outros. E eu não disse aqui, cuide dos outros. Eu disse, seja responsável pelos outros. No sentido que Levinas aplica essa alteridade. Tente ir um pouco mais para a beira de si mesmo, vá além e olhe o outro. Atravessar essa fronteira que separa esse seu problema para chegar ao outro, vai fazer você ver o mundo um pouco mais amplo, e quem sabe os seus problemas não serão mais, nem os únicos, nem o centro do mundo. Eu serei responsável por mim e pelo outro, mas não devo esperar reciprocidade: se eu esperar algo em troca não serei uma pessoa melhor, apenas uma ótima comerciante (toma lá, dá cá). E aceite as diferenças: entre você e o outro, e entre todo o resto. Diferença e aceitação são dois conceitos importantes. Leia Levinas, mesmo que teoria e prática nem sempre consigam tecer o mundo conjuntamente.

Venda a sua televisão e compre uma biblioteca. Vá além desse mundinho fechado e seguro.  Olhe a sua própria cidade, o seu bairro, o seu país ou o seu vizinho. Saia dessa sua neurose-problemática-egoísta de: o meu problema é o maior do mundo.

Agora darei um salto no pensamento (é bom também: prefiro pensamentos saltitantes do que circulares):

E se o avião cair? Deixa eu dizer outra coisa: o avião desde sempre está caindo, e se você apenas prestar atenção nisso, à espera do momento fatal, você está perdendo minutos preciosos. Existe um aqui em cima, e um lá embaixo (ou vice-versa, depende da fase da vida que você está: se está lá no alto – há a queda. Se você está aqui embaixo: há a decolagem). E a diferença não é apenas de altitude. Eu diria que é mais de ATITUDE. Eu sei que o avião está caindo desde o primeiro respiro, mas eu não quero que a minha felicidade (acho a palavra felicidade repleta de falsas ideias, mas utilizo aqui porque acho que as pessoas entenderão melhor. Eu trocaria a “felicidade” por tranquilidade/sorriso/equilíbrio/bem-estar ou alguma coisa sem tanto peso de “é a única coisa necessária no mundo” ou “objetivo maior”) pois bem: eu não quero que a minha felicidade/bem-estar/tranquilidade/paz-de-espírito/equilíbrio dependa do piloto. Não. Eu sei que um dia todos os aviões cairão, mas antes eu prefiro acreditar no voo.

E por que esse texto, para quem isso tudo? Para a vida, para mim, para você, para todos nós (até por questões da amnésia, é sempre bom registrar). Ah sim: vida, aqui vou eu! Quero as folhas vermelhas, o frio ardente (com licença, poesia), quero o meu peito aberto, a Outra que em mim habita. A Outra é a sua chance de recomeços. Aprenda a voar, sem medo da queda: seja subindo ou descendo, voe.

A Outra, é uma forma de voar. E sonhe.

A.I., A Outra.

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