Fechava as janelas, vidros e portas. Não dormia, se aconchegava: entre almofadas, cobertores e travesseiros. A chuva, chovia. Sempre que chovia, voltava ao útero. Um silêncio que amortecia os ruídos do mundo. Lá fora, a vida. Aqui, o antes de tudo, um agora urgente e inadiável, talvez o único ponto exato em que tempo e espaço coincidiam. Aqui, nesse quieto tão dentro e tão longe. Deixa tudo ser, um refrão na sua cabeça. Mas ela não tinha mais cabeça, pensamento, mente. Apenas a quietude da água, do tempo fora do tempo. Chovia, e ela estava aqui, eu dentro dela ela dentro de mim, eu e eu mesma, chovendo e pulsando. A chuva batia nas vidraças, como o ruído do mundo ecoava na pele. Mas a chuva aquietou-se, e por entre as frestas da árvore, o sol desenhou ideogramas na parede. Eu, sem saber ler nem escrever, acreditei com todas as fraquezas que ser forte era coisa de homem, que gritar era coisa de bicho, e que nascer era coisa de livro.

Escancarei janelas molhadas, gritei na língua dos deuses que.

do grito ruiu o mundo, o homem, o livro.

O que restou foi nuvem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *