Em dias de chuva, principalmente. Não tenho medo deles. Penso-os. Conto o número de dentes, aquele olho furado (de onde? por que?), quantos séculos atrás o nascimento, qual seu prato preferido. Perguntas feitas, quase nunca respondidas. São silenciosos e perdem a paciência com tictoc de relógios (acredito que perturbem a paz das suas paredes, peles sensíveis). Gostam de luz e sombra, brincam de ‘aparece-e-esconde’. Quanto mais noite, mais deles: seus hábitos são noturnos, durante o dia, correm para o jardim: muros e pedras. Muitos deles, sei, são marítimos, acostumados a profundezas e ar rarefeito. Por que então, paredes? Porque são por elas que escalam e voltam à superfície. Alguns (poucos) já habitaram vulcões, mas agora repousam no fresco do cimento pintado. A maioria, minúsculos, aparecem nas rachaduras, fissuras, pequenas arestas e quinas, agigantam-se e reúnem-se nos últimos degraus das escadas. Também atrás de portas. Corredores longos e com pouca luz, são os preferidos: dão velocidade e deslize. Mas é principalmente no teto que se divertem: acima das cabeças de seres que desconhecem sua(s) existência(s). Em dias de chuva, não há como não ouvir: eles cantam, discutem, e por vezes, respondem: com bilhetes.

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