Tem frase que vem feito título de livro e não segue adiante não segue em frente e ficamos nós, ali, numa hipertrofia de eu, “eu quê?”. Eu como, eu durmo, eu sonho, feito música embaralhada, ano e tempo que não passam e não voltam, “eu quem?”. Quem são e quando, não se sabe, não se quer saber, talvez até se ouça, mas “eu?”. Tem frase que cruza o rasgo do parágrafo e a gente diz: por quê? Não se sabe. Feito pessoa em esquina da vida, longe e distante de tudo, que cruza olho, cruza ideia, cruza pensamento, e quem há de. Tem frase que aparece agora, quando deveria ter vindo ontem, atrasada no dia, no corpo e talvez até, no texto. Frase que se governa, frase que não sabe de si, não sabe de mim, não sabe da história. Sabe?

Frase.

É frase parafraseada enganada, que vem na boca aqui, quando estava mesmo era no ouvido lá, frase que gruda, caminha, arrasta a perna ao lado da minha, e? E o quê? É frase que persegue, que feito sombra vai-e-volta, frase noturna e cheia de insônia, frase que cola no travesseiro, se enrola no pijama, desliza pela pia, e volta pela xícara. É frase assim, que pinga, goteja, escorre da mesa para o chão, para a folha, pela mão, frase molhada e suada em pleno inverno, frase em febre, frase cheia que transborda e engole tudo: pessoa, verbo e complemento. Frase que não existe nesse tempo verbal nem naquele. Frase assim, não há como guardar, a gente abre a janela e diz: vai, chega no céu e vira cometa, asteróide, lua cheia! Vai ser nebulosa ou galáxia distante.

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