Queria uma palavra não dita, nunca descrita, uma ilha fora dos mapas, uma flor rara, de perfume intraduzível. Queria a hora fora dos relógios mundanos, um verso em língua tão viva que, por si só, dançasse na brisa da noite silente. Queria um abraço sem fim nem começo, uma dança que na música se perdesse, e fosse reencontrada séculos e séculos depois, em forma de chuva. Queria isso tudo para um dia normal: como hoje.
Como agora.
Como um pouquinho antes do sol adormecer.
Porque num dia normal como hoje, acontecem coisas tão altas como azul e pensamento, tão profundas como mar e estrelas. Nesse dia normal, pessoas dançam mesmo paradas, abelhas se atiram entre cores e mel, as buzinas no trânsito são transe,
tão longe,
tão longe.
Nesse dia normal, a noite chega entre amoras e verdes jardins, perfume de noturnas vontades, pele lavada da alma tranquila que pousa ali, naquele lençol. Hoje, sem ânsia nem pressa, a vida segue na folha de papel, e entre nomes somados, datas marcadas, mais que agendas e dias, é num dia normal que pessoas saltam abismos, e no voo, a palavra a ilha a flor o tempo o verso a dança:
tudo chove, e nós,
(re)nascemos.

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