Quando Svetlana Aleksiévitch subiu ao palco da Flip 2016, ontem, no fim da tarde, ela trouxe uma mensagem ao mundo, seja ele literário ou “real”: há que se “tirar o ser humano de dentro do ser humano”. A Nobel emocionou a todos que, de ouvidos atentos (de minha parte, na tradução, claro), respiração em suspenso, descobriram que por detrás da literatura e do jornalismo, de prêmios e egos, existe algo de mais importante: vida que pulsa.

Há guerra? Sim.  Mas há crianças.

Há morte? Sim. Mas também pôr-do-sol.

Há dor, muita dor? Sim. Mas existe o amor.

E só o amor cura. Uma aula e um exemplo para intelectualidades áridas, vazias de sentimento: o que falta no mundo, além de amor, é saber ouvir. É deixar o outro existir.

Eu chorei. E acredito que muitas outras pessoas que ali estavam, foram tocadas pela força dessa imensa mulher.

Seja nas histórias de todos os silenciados nas guerras, ou do desastre de Tchernóbil, o que se viu foi uma avó que, ao ser questionada pela neta: “vovó, quando vamos morar todos juntos?”, voltou ao seu país destroçado para ali ficar.

Eu fiquei com a impressão que a literatura tem que ser muito mais, porque a vida é muito mais.

Por mais Benjamin(s) Moser(s) (que, a cada um que dava seu autógrafo, se apresentava como um simples Benjamin, de sorriso no rosto, todo Clarice), por mais Heloísa(s) Buarque(s) de Hollanda (que, de dentro da Academia, consegue rir de si-nós mesmas quando diz que a crítica procurava saber quais os possíveis motivos para o título “Cenas de Abril”, quando a resposta era um simples: “porque o L de Abril ficava lindo” nos livros artesanais que ela e Ana C. faziam à quatro mãos), e por muitas mais Svetlana(s), que nos mostrou que, apesar de tudo, ainda é o amor o que há de mais importante nas nossas vidas.

Um comentário em “Guerras, amores e poemas

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