Era um pedaço desses galhos velhos
secos
apodrecidos
tempo que passou
corroeu
desgaste de carne antes verde, agora
secura e fim.
Mas era galho que tinha história:
crianças por ele subiram e chegaram ao topo do mundo
abacates verdes redondos maduros e onipotentes
em sua carnuda existência,
existiram.
Por seus galhos, passarinhos, borboletas e formigas
balanço até
uma vez teve.
Ele dançou no vento e na chuva
equilibrou folhas
vestiu-se e ficou nu
entre primaveras e outonos.
No inverno, quieto, meditou.
No verão eram agitados os seus dias: quase noite, e ainda ali, aqui, por toda sua pele, pura excitação.
E um dia, veio o machado, o corte, a poda:
já não produzia mais já não servia mais

não.
Mas ele guardava ali, em meio aos besouros, lagartas e insetos diminutos
sementes nunca antes contadas (silenciosas, ainda não cantadas também)
eram sementes que em algum tempo futuro
quando não mais aqui existissem homens
nasceriam
cresceriam
trariam de volta
as memórias esquecidas
de raízes e asas
desse espaço que une o fundo e o dentro
o alto e raso:
é semente – nós, que ainda não sabemos plantar.

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