Ao cruzar as areias, os figos escorriam feito primavera noturna: cheiro doce atravessado por um azul estrelado.
Mastigou palavras, perfumes, e o gosto da noite salgada deslizava pelos cantos da boca.
Rasgando a pele, ali, bem ali, que fogo era esse, que crestava pensamentos?
Numa língua vingativa, profetizou destinos e odores, e aqueles dedos traçaram rotas primeiras numa cor inexistente: vermelho furioso.
E a chuva.
A chuva, ao longe, na distância do sonho, a chuva viria. Em algum lugar daquelas areias, chovia. Uma chuva antiga, e os figos, escorriam. Era uma fome ancestral.