E eu, que me dedico atualmente ao estudo do espaço literário, não teria como não citar aqui Gaston Bachelard, com “A poética do espaço”. Gosto de toda obra de Bachelard, seus pensamentos noturnos ou diurnos, mas para os amantes da poesia, esse espaço é perfumado.

Bachelard, topoanalisa os espaços da linguagem, através daquilo que o filósofo chama de topofilias, os espaços felizes da poética. Percorre as poéticas espaciais da casa, porões, gavetas e torres. Cantos, ninhos e imensidões. Quais memórias constroem nossas casas antigas? As casas das nossas infâncias eternas…

E ganhamos de presente, além da escrita deliciosa de Bachelard, todos os poetas que ele traz para sua topoanálise:

“Conheço uma tristeza com cheiro de abacaxi

Sou menos triste, mais docemente triste” (Jules Supervielle)

Ou:

“O armário está cheio de roupa limpa

Há até raios de lua que posso desdobrar” (André Breton).

Bachelard abre armários, olha pela janela as tempestades lá fora, e nos mostra o quanto somos construídos por todos esses espaços que habitamos (e que nos habitam).

Mais que teoria, devaneios. Deliciosos. Delicados. Poéticos. A imensidão “está em nós”.

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