Estarei eu, em fermentação?
Talvez. Comecei colocando de molho repolhos, beterrabas, frutas maduras. Depois foram os grãos, os folhosos, e as cascas. Numa tarde quente de verão, pensamentos envelhecidos, borbulhavam e soltavam odores e sabores.
A fermentação cozinha alimentos sem fogo. É o fogo interno que decompõe as moléculas e cadeias de nutrientes. É o fogo interno e as bactérias, selvagens, na maioria das vezes, que atuam e criam culturas (sim, nós e as selvagens), comunidades, interações que desenvolvem uma forma nova de cozinhar e conservar alimentos.
Vidros, potes de cerâmica, garrafas, tudo vai se somando para experiências não-laboratoriais para sabores intensos e profundos, que por vezes, acordam nosso paladar para algo distante, quase como se nos aproximássemos daquelas bactérias ancestrais, que transformaram o(s) mundo(s).
Nem todos gostam de alimentos fermentados: chucrute, kefir, iogurtes, idlis, kombuchas…É preciso estar aberto a conhecer o gosto do tempo: envelhecer também com a língua, o nariz, o prato. Ar, tempo, umidades, minúsculos seres, temperaturas, tudo isso cria um ambiente único para que este sabor ou aquele, aconteça. Nós acontecemos junto.
Sim, fermentamos desde o nascimento. E também depois da morte.
Somos também esse tempo selvagem que habita vidros e bocas, cascas e polpas. E é preciso ter paciência e dedicação para provar a vida fermentando.

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