Diluo queixas em água mineral (já que a da torneira tem cloro demais, coliformes demais).
Água e mais água: para limpar, para hidratar, para misturar.
Somos quase todas, águas(s).
Estamos vegetarianas, ainda consumimos algumas poucas coisas de origem animal: manteiga e queijo. Manteiga não me faz falta, substituo facilmente por óleo, azeite, manteiga de coco. Mas queijo, é mais interno, mais profunda a raiz para arrancá-la e sair ilesa. E eis então que me proponho a seguir essa vontade e ver de onde vem, como surge, como é feito, e ando às voltas com livros, mentoria, muita experiência (e erro e acerto e erro de novo e mais alguns acertos), e paciência (fermentação é a materialização da meditação).
Minha rápida experiência no ritmo alucinado de uma cozinha me fez compreender que sim, algumas pessoas são dessas velocidades.
Eu gosto das coisas que levam tempo.
Muito tempo.
E foi assim que iniciei o percurso na fermentação: chucrutes, iogurtes, picles, frutas da época (para ter frutas fora da época), pães, e tudo que, de uma forma ou de outra, vá para dentro de potes de cerâmica, de vidro, com temperaturas variadas, nesses escuros das coisas que levam tempo.
As queijas nasceram desses escuros:
queijo,
queixa,
queija.
Se o queijo é do leite de vaca (ou ovelha, ou cabra), as queijas aqui serão de leite de castanha, amendoim, girassol, gergelim e tantas outras sementes.

A receita mais simples de todas:

* 500 gramas de castanha-de-caju (demolhadas no mínimo 24 horas)
* 1 limão
* sal
* água para os processos (de hidratação e depois de transformação em leite)
* Temperos (secos: páprica, curry, orégano, tomilho, o que for do gosto) para salpicar por cima.

A feitura:

Bater as castanhas (já demolhadas) com água (se não for mineral, melhor filtrada ou fervida – deixar esfriar) no liquidificador por uns cinco minutos (até que tenha consistência de iogurte, acrescente a água aos poucos). Coloque num pote de vidro ou plástico previamente higienizado, acrescente o suco de um limão, misture e deixe fora da geladeira por aproximadamente um dia (vai depender da estação do ano, quanto mais quente, mais rápido o início da fermentação).
Melhores monitores do processo são o nariz e a boca (o cheiro da fermentação é característico – é só pensar no iogurte ou coalhada – e ao paladar, levemente ácido). A pasta também ficará mais aerada quando a fermentação está em processo.
Depois disso, acrescentar uma colher de chá de sal (ou à gosto, não recomendo demasiado, pois a fermentação varia de acordo com o sal também já que ele é um conservante natural).
Pode ser consumido logo em seguida (lembra uma coalhada).
Se estiver muito líquido é só verter num tecido próprio (pano de fralda – morim) e deixar escorrer o soro até que fique mais sólido e possa ser modelado (pode ser utilizado aro de metal, pote de silicone, plástico, ou fôrma especial para queijarias), o tempo vai variar (aproximadamente doze horas).
Depois que firmou, enformou (umas doze horas na fôrma), desenformar e colocar sobre papel manteiga para secar.
Uma vez por dia, trocar o papel e virar. O consumo vai variar de paladar para paladar. Eu já deixei trinta dias, e fui provando com o passar dos dias (é muito bom sentir a evolução dos aromas, da textura, o envelhecimento da queija).
Pode ser degustada pura, ou polvilhada com algum dos temperos da sua preferência.
Manter em geladeira, e observar a aparência, odor e gosto.
Algumas pessoas utilizam o rejuvelac (que acelera o processo de fermentação), mas eu já fiz das duas maneiras, e não vejo grande diferença.
Experimente.
É prazeroso.
É gostoso.
Livre de lactose, livre de sofrimento animal.

#queija #quaseumaqueijaria #decastanhas

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