-
Na prosa dos teus braços, minha pele em poesia
Na taça dos teus seios, nem vinho nem verdades, só a sede infinita desse deserto (in)findável: vida. E era ali, naquela noite natalina, que presentes e futuros se misturavam ao pé da árvore cheia de estrelas, anjos e desejos profanos. De lá para cá, linhas, parágrafos inteiros, volumes e tomos se misturam entre rascunhos e […]
-
Os corpos na física quântica
Naquele calor, ela lembrou da dilatação dos corpos. Quando olhou aquelas costas, aquela nuca, seu corpo engoliu o mundo todo, toda ela. Dilatadas pupilas, a vida parecia outra, ela mesma, transformada. Largou trabalho, queimou a casa, escolheu um único poema. E foi viver no frio.
-
Sem nenhuma conotação sexual
A chuva viria. Uma noite saudável. Pensei numa macarronada (pensamento italiano, claro). Mas comprei atum fresco (eu, que sou fã incondicional do atum em lata). Levei para casa enrolado em jornal. Comprei uma garrafa de Sauvignon Blanc (eu, que sou adepta do tinto). Eu, que era fã do atum em lata, agora me transformei numa maníaca por […]
-
Impiedosas primaveras
Aqueles que me conhecem um pouco, já sabem que ao abrir a primeira pétala, o texto que floresce dentro de mim é sempre o mesmo. Então, para não deixar o ritual esmorecer, aqui vai novamente, ela, sempre ela, Clarice à primavera: “Nesta dormente primavera, no campo o sonho das cabras. No terraço do hotel o […]
-
Pequena narrativa meteorológica
Pelas pontas dos dedos, na curva da nuca, entrelaçados nos calcanhares, naquele desenho de joelho, cintura e postura, no andar, não de pernas, mas de pensamentos, a voz que não é só cordas, garganta, boca e ar, mas pele poros céu ribombando dentro do peito da ideia daquilo que um dia nasceu em verde azul […]
-
Entre goles de café, a via láctea
Era do corpo que nascia o sol: mais precisamente, naquela curva do queixo. Em dias nublados, a névoa subia dos tornozelos, se escondia por detrás dos joelhos. Passarinhos esvoaçavam por entre as madeixas, e as flores abriam-se na palma das mãos. Por entre os dedos, brotavam nascentes, e no dorso nu, se fazia poente. Dos […]
-
Teus olhos roubados
Não me importam os crimes políticos: sádica que sou, desejo Crimes de Amor. Numa Filosofia de Alcova, as dores (e os amores) estão repletos de odores. Libertemos as rimas de suas eternas prisões!, um ai de um cai, não sei fazer poesia não. O corpo delira em estrofes, e a respiração da palavra sôfrega, declama […]
-
Astrolábios
Náufraga, de velas rasgadas, sonhei. Era noite. Bússolas e caminhos: tudo apagou-se. Era uma constelação inteira que me guiava por areias escaldantes, dunas mutantes, e tempestades distantes. Era um outro tempo, aquele vento que arrastava mundos, e eu perdida num canto que já não tinha voz. E você veio, rosa dos ventos, meu mapa perdido, me […]
-
Os pássaros na cabeça
“Talvez ela tivesse percebido que a ponta dos seus dedos brilhavam, feito vagalume, quando tocavam em coisas que o deixavam feliz. Mas, se ficassem juntos, ele teria de contar sobre esse fato luminoso. Foi exatamente o que ela pensou enquanto seguiam para o restaurante. Tomaram um tanat, comeram comida típica do lugar. Ela tentando ignorar […]