I.

No começo foi um grito
o canto
o pranto
o corte
o sangue.
No meio das pernas,
a fonte.
Primitiva ancestral
antepassada(mente)
e agora.
Era uma torrente de sangue que acordava o vulcão:
as mãos os lábios o ventre a nuca os pés –
dançando passos,
as costas e seus compassos,
entre os seios,
flores,
pelos joelhos,
amores.
Lençóis descobriram verdades nas páginas de livros nas noites insones nas
fomes.

II.

Ela lá. Eu aqui. Parecia jingle de propaganda política. Mas não era. No primeiro almoço o que lembro: o rubro dos cabelos, o verde dos olhos, o azul de algum céu perdido naquilo tudo que se falava, entre águas e terras distantes. E os livros. E a poesia derramada no vinho tinto (tinto, sempre tinto). Ficou aquilo ali num lá (maior?). E foram meses longos de espera. Mensagens que não vinham por garrafas náufragas mas em aplicativos esverdeados. E o acordar com bips. E o adormecer com bips. Longas horas que se multiplicavam entre minutos vazios, preenchidos apenas com fantasias (eróticas até) que terminavam em prazeres solitários. Até que.

III.

a carta:
trouxe desenhadas em letra e beijo,
um alfabeto inteiro.
Era então,
assim,
sete dias para o fim do ano
que explodiam supernovas,
buracos negros
e coração?
Não sabia ser tão céu
nem tão mar.
Tragada pelo medo
arrepiada da nuca ao púbis,
ela disse
sim
(não foi Clarice que disse que tudo no mundo começa com um sim?)
Sim.

IV.

Se fosse em outra história, seriam felizes para sempre.
E são:
agora. nesse exato
sempre-agora.
Mas não assim
tão fácil.
Não tão rápido.
É de um crescer lento
duro
feito amor de pedra
feito pena ao vento.
Nas mãos, mãos.
Nos pés, passos.
Sangue no dentro que jorra
aflora
no quente canto dos dias.

#LeiaMulheres

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